sexta-feira, 29 de julho de 2011

MENSAGEM DE DOM PEDRO CASALDÁLIGA NA ROMARIA DOS MÁRTIRES


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Transcrevemos abaixo a reflexão feita bispo-emérito de São Félix do Araguaia, dom Pedro Casaldáliga, durante a celebração na Romaria dos Mártires da Caminhada, realizada na cidade de Ribeirão Cascalheira/MT, marcou a todos os presentes pelo caráter testemunhal e profundamente profético. Segue a transcrição livre da mensagem ao final da celebração de 17 de julho, feita por Marcelo Naves. 

Meditemos esta mensagem deste santo homem de Deus e grande Profeta da Igreja no Brasil:

Pe. José Ionilton Lisboa de Oliveira, SDV
 
“Possivelmente seja essa, para mim, a última romaria pé no chão. A outra já seria contando estrelas no seio do Pai. De todo modo, seja a última, seja a penúltima, eu quero dar uns conselhos. Velho caduco tem direito de dar conselhos... E a memória dos mártires, o sangue dos mártires, mais do que um conselho, [é] compromisso que conjuntamente assumimos, ou reassumimos. 

São Paulo, depois de tantos dogmas que anuncia, tantas brigas teológicas, tantas intrigas por cultura, dá um conselho único: ‘o que eu peço de vocês [é] que não esqueçam dos pobres; o que eu peço de vocês [é] que não esqueçam a opção pelos pobres, essencial ao Evangelho, à Igreja de Jesus’. A opção pelos pobres. E esses pobres se concretizam nos povos indígenas, no povo negro, na mulher marginalizada, nos sem-terra, nos prisioneiros..., nos muitos filhos e filhas de Deus proibidos de viver com dignidade e com liberdade. 

Eu peço também para vocês que não se esqueçam do sangue dos mártires. Tem gente, na própria Igreja, que acha que chega de falar de mártires. O dia que chegar de falar de mártires deveríamos apagar o Novo Testamento, fechar o rosto de Jesus. Assumam a Romaria dos Mártires, multipliquem a Romaria dos Mártires, sempre, recordemos bem, assumindo as causas dos mártires. Pelas causas pelas quais morreram, nós vamos dedicar, vamos doar, e se for preciso morrer, a nossa própria vida também... 

E ainda uma palavra: há muita amargura, há muita decepção, há muito cansaço... Isso é heresia! Isso é pecado! Nós somos o povo da esperança, o povo da Páscoa. O outro mundo possível somos nós! A outra Igreja possível somos nós! Devemos fazer questão de vivermos todos cutucando, agitando, comprometendo. Como se cada um de nós fosse uma célula-mãe espalhando vida, provocando vida. A Igreja da libertação está viva ressuscitada porque é a Igreja de Jesus. A teologia da libertação, a espiritualidade da libertação, a liturgia da libertação, a vida eclesial da libertação não é nada de fora, é algo mui de dentro, do próprio mistério pascal, que é o mistério da vida de Jesus, que é o mistério das nossas vidas. 

Para todos vocês, todas vocês, um abraço imenso, de muito carinho, de muita ternura, de um grito de esperança, esse cantar viva a esperança que seja uma razão... Podem nos tirar tudo, menos a via da esperança. Vamos repetir: ‘Podem nos tirar tudo, menos a via da esperança!’. Um grande abraço para vocês, para as suas comunidades, e a caminhada continua! 

Amém, Axé, Awere, Saúde, Aleluia!”.

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