Como você deve saber, trata-se de uma festa originariamente de cristãos. Ele acontecia na chamada Terça-feira Gorda, quando se brincava sadiamente e se comia carne em abundância, marcando a despedida da mesa farta para se entrar na penitência quaresmal. Daí o nome latino “Carne vale!” – Adeus, carne! Era um belo sinal do senso de humor dos cristãos, que entravam no tempo quaresmal com alegria e disposição. A penitência quaresmal, com a severa abstinência de carne, não parecia um peso excessivo para quem levava Deus a sério, para quem tinha diante dos olhos o amor de Cristo e a necessidade de caminhar para Ele pela conversão contínua. Assim, no dia seguinte à Terça-feira Gorda, na Quarta-feira de Cinzas, os discípulos de Cristo iniciavam o santo jejum com seriedade e espírito de fé!
Aos poucos, com a lenta, mas inexorável secularização da sociedade, o Carnaval foi sendo dilatado, começando antecipadamente no domingo; foi também perdendo sua ligação com a penitência quaresmal: brincava-se por brincar, sem referência séria ao tempo quaresmal. A Quarta-feira de Cinzas ia se tornando somente a "Quarta-feira ingrata"... Além do mais, pouco a pouco, foi passando de uma brincadeira inocente para uma festa de excessos e imoralidades. E chegamos a esta situação atual.
Agora, pergunto eu: Como um cristão deve avaliar o Carnaval?
Penso que é importante compreender que não podemos mais ter um olhar ingênuo, simplesmente positivo e benévolo em relação às coisas que nossa cultura pós-cristã e neopagã tem produzido. Não dá para sorrir e elogiar realidades que levam para tão distante do Evangelho!
Dou-lhe um exemplo que talvez o contrarie, meu estimado Leitor, a quem respeito de todo o coração, mas diante de quem devo honestamente dizer o que penso... Veja o desfile das escolas de samba. Não há que duvidar tratar-se de uma realidade cultural, de ser uma explosão de arte, de beleza plástica, de harmonia que tanto agrada aos sentidos! E se fosse só isto, que beleza! Mas, vem o excesso, vem a imoralidade gritante, vêm letras de samba que por vezes são maliciosas e incompatíveis com nossa fé cristã! E assim, sorrateiramente, entram no ouvido e no coração, realidades que nos afastam do Senhor nosso.
Devemos, então, rejeitar em bloco o Carnaval atual?
A resposta pronta não existe! Se um cristão julga poder brincar o carnavalzão do mundo sem cometer excessos, sem dar azo à imoralidade, sem a dispersão interior violenta que nos tira da presença de Deus e da realidade, então brinque em paz! Duvido muito que isto seja possível, mas é preciso respeitar a consciência de cada um!
Eu mesmo sugiro, como pastor da Igreja, que os cristãos deem preferencia por brincar o Carnaval em grupos de cristãos, de modo puro, sereno, inocente, fraterno, com toda alegria despretenciosa que nasce de um coração que sabe o sentido verdadeiro da existência.
Uma coisa é certa: à medida que o mundo se paganiza, é necessário reavaliar nossas posturas frente tantas realidades que antes, numa sociedade culturalmente cristã, não representavam problema algum para um discípulo de Cristo. Pense nisto. E que o Senhor o abençoe, meu Irmão!
Fonte: http://costa_hs.blog.uol.com.br/ (blog de Dom Henrique)