domingo, 26 de fevereiro de 2012

REFLEXÃO PARA O 1º DOMINGO DA QUARESMA

É possível em um ambiente corrompido, caótico, em ruína moral e física, haver restauração, desde que em seu meio exista alguém que opte pela vida e, permanentemente, rejeite a morte. Isso é o que nos diz a primeira leitura deste domingo, ao nos contar a história de Noé e do dilúvio.

Deus, após o aparente triunfo do mal, com o surgimento do dilúvio, faz uma aliança com toda a criação, através da promessa dita a Noé, um homem de bem e temente a Deus. O Senhor se compromete a jamais permitir a destruição de suas criaturas e, como memória, coloca no firmamento, um sinal eloqüente, o arco-íris.

No Evangelho, Jesus vive sua quaresma isto é, seu tempo de preparação mais próxima para vencer definitivamente o adversário. São quarenta dias que nos lembram os quarenta dias do dilúvio, os 40 dias que Moisés permaneceu no monte Nebo para receber os Dez Mandamentos, os 40 dias em que Elias permaneceu escondido na montanha. São quarenta, mas não exatamente 39 mais 01 e sim um tempo bíblico de reflexão e preparação.

Jesus foi conduzido pelo Espírito para esse tempo de luta. Ele havia recebido a força de Deus e estava preparado para o confronto com o adversário. Ele anuncia que o tempo já se cumpriu e que o Reino de Deus está próximo. E diz: “Convertam-se e creiam na boa notícia”. Na verdade essa quaresma de Jesus, esse seu tempo de luta, vai durar toda sua vida.

Na segunda leitura, Paulo faz uma comparação entre a arca construída por Noé e o batismo adquirido pelo sangue do Senhor. Arca salvou as pessoas da destruição, o batismo, mais que nos salvar, nos torna pessoas novas, nos confere nova identidade, a de filhos de Deus.

O sinal eloqüente que Deus nos deu foi a morte de seu filho na cruz e nossa adoção como filhos. A redenção da criação se deu quando, através desse fato, tudo deixou de ser profano e passou a ser sagrado, porque o Senhor da Vida, o Kyrios, assumiu nossa carne mortal e a eternizou. A matéria foi divinizada.

Pratiquemos o bem, deixemos que o sangue do Senhor vá inundando todo o nosso ser e destruindo aquilo que manifesta nossa caducidade. Que nossa vida, todo o nosso ser, seja plenificado pelo Espírito que preparou Jesus para a luta.

Fonte: radiovaticana.org

Campanha da Fraternidade

Sabiamente, em 1964, a Igreja instituiu a Campanha da Fraternidade, com abrangência nacional, tendo como principal objetivo, evangelizar. Isto acontece em sintonia com o tempo da quaresma, e constitui espaço privilegiado de formação dentro da motivação proposta para cada ano.

Em 2012, o tema é: “A fraternidade e a Saúde Pública”, e o lema: “Que a saúde se difunda sobre a terra” (Eclo 38, 8). A busca de saúde é uma urgência e uma das condições essenciais para que a pessoa tenha dignidade. Por isto, todos têm direito aos meios públicos para tratamento de saúde.

O grande objetivo da Campanha deste ano é refletir sobre a realidade da saúde no país em vista de uma vida saudável. Sabemos que a vida, a saúde e a doença são um mistério, verdadeiros dons de Deus, ambas relacionadas à ordem corporal e à espiritual, necessitando sempre de cura.

Ninguém escolhe ser doente. A doença se impõe. Mas buscamos a saúde e bem estar físico, psíquico, social e espiritual. Temos que ver a doença como oportunidade de evidência de valores contidos na pessoa. Podemos falar de igualdade, solidariedade, justiça, participação cidadã etc.
Na defesa de uma vida sadia e saudável, o empenho de solidariedade é fundamental. Todas as forças da sociedade devem ser canalizadas em benefício da saúde e de uma vida mais saudável. Há o papel imprescindível do Estado, da Igreja e de cada cidadão, cada um a seu modo trabalhando pela qualidade de vida das pessoas.

A saúde deve ser uma realidade concreta para as pessoas e a vida seja plenamente vivida em todas as suas dimensões, seja a nível pessoal, como social. Por isto, a Campanha da Fraternidade quer ser um sinal de esperança para o povo brasileiro, superando as fraquezas, valorizando a vida no todo.

No passado, o que mais matava o povo eram as doenças contagiosas. Hoje é a obesidade, o câncer, os vícios, as doenças de coração, a AIDS etc. Grande parte de tudo isto tem relação forte com a alimentação e com o meio ambiente. São realidades que afetam a vida, os costumes e o dia a dia das pessoas.

No Sistema Único de Saúde, a saúde é vista como direito. Por isto, deve atender a todos, mas tem sido uma das maiores fontes de desvios. Muito dinheiro da saúde é destinado para outros fins. É uma proposta socialista, mas numa cultura capitalista, que valoriza mais o dinheiro do que a saúde das pessoas.

O que falta muito é o acompanhamento da comunidade organizada, a participação nos conselhos ligados à saúde, policiando o destino do dinheiro público destinado para essa área. Para isto é importante a consciência crítica das pessoas cobrando aquilo que é de direito. Só assim teremos uma realidade nova e mais humana.

Por fim, a Campanha da Fraternidade é momento de reflexão e conscientização sobre o que está acontecendo com a saúde pública. O que vemos é a sua privatização, tendo em vista os diversos planos particulares, enfraquecendo o sistema que deveria dar sustentação e vida de qualidade para todos.

Dom Paulo Mendes Peixoto
Bispo de São José do Rio Preto.
Fonte: radiovaticana.org