quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Festas da Igreja e álcool!

Recebi por e-mail de Edna Lima, Coordenadora da Pastoral da Sobriedade da Paróquia Nossa Senhora da Conceição em Riachão do Jacuípe (BA) um artigo de Dom Orlando Brandes, Arcebispo de Londrina (PR). Excelente! Por isto decidi postar no Blog de nossa Paróquia!


 
Festas da Igreja e álcool

O alcoolismo é uma doença e um veneno que destrói a pessoa, desagrega a família, fracassa a vida, mata no trânsito, provoca violência. O álcool é a porta que leva às outras drogas. Todos sabemos que o alcoolismo é uma doença. “Não vos embriagueis” (Ef 5,18).

O governo quer restringir ainda mais o consumo de álcool e a Igreja assumiu a Pastoral da Sobriedade. Como então fazer festas da Igreja com álcool?
 
Muitas dioceses já aboliram o álcool nas festas da Igreja. Ninguém saiu prejudicado, pelo contrário, tudo melhorou.
 
O Documento de Aparecida afirma que a Igreja deve abandonar  “estruturas ultrapassadas” (nº 365). E se há algo ultrapassado é festa religiosa com álcool. Além de doença, o alcoolismo é uma epidemia. Nós somos a favor da vida. O álcool mata. Quem ainda defende festas religiosas com álcool são lideranças antigas que não acreditam no dízimo e que não usam de criatividade para encontrar outras soluções para a manutenção da comunidade.

Não somos contra as festas, pelo contrário, elas são benéficas, mas sem álcool. Todos sabemos comprovadamente que a venda de álcool não traz lucro. “Detesto vossas festas, tornaram-se uma carga que não suporto mais” (Is 1,14). O povo é contra as festas com álcool, pois quem sofre as consequências são as famílias. Além disso, somos com razão criticados por outras religiões. É preciso ter coragem de mudar. O próprio Senhor nos alerta: “Cuidado com a embriaguez” (Lc 21,34).
 
Para tirar o álcool, o pároco e as lideranças precisam acreditar no dízimo e incentivá-lo e a comunidade precisa ser conscientizada e informada sobre as razões, os motivos e a importância da festa sem o álcool e suas vantagens. Muitas paróquias já aboliram o álcool em nossa Igreja e estão super felizes com melhores rendimentos, maior participação do povo e grande alegria.
 
Nós precisamos dar o bom exemplo e sermos coerentes com a nossa fé e a Pastoral da Sobriedade. Assim não seremos causa de escândalo para a sociedade e estaremos colaborando com a saúde publica. Se em nossas festas se infiltrarem vendedores de fora, temos muitas maneiras de solucionar a questão. É só querer. 

O que importa é que a promoção do álcool não venha da nossa parte. Se alguém aluga nossos salões para casamentos, formaturas e outros encontros, o uso do álcool não é patrocinado pela Igreja, mas pelos responsáveis pela festa.

A experiência tem comprovado que o suco de uva, a cerveja sem álcool, os refrigerantes e outras bebidas substituem as bebidas alcoólicas. Quanto menos álcool, mais as famílias participam e maior é o consumo de comidas, doces etc. Quem bebe muito álcool consome pouco. Todas estas realidades precisam pesar na nossa decisão de abolir o álcool nas festas religiosas.

O alcoolismo atinge a juventude, as mulheres e inclusive pessoas da Igreja. Temos centros de recuperação de dependentes químicos. Não podemos entrar em contradição nem viver na incoerência e dando mau exemplo. 

Abolir o álcool das festas não significa puritanismo, nem moralismo. Cada qual é responsável pelas decisões que assume. O que não podemos é manter uma estrutura ultrapassada, fechando-nos a outras cabíveis e louváveis soluções que estão dando certo diante de nossos olhos. É só querer enxergar.
 
Por fim, lá aonde cresce a consciência e participação comunitária, o lado econômico é resolvido com relativa facilidade. Onde existe a comunhão e participação a parte financeira cresce sem a necessidade de recorrer ao álcool. É mais fácil fazer festas com álcool do que criar verdadeiras comunidades de vida com espírito de família. Estamos diante de dois tipos de eclesiologia, dois tipos de perfil de Igreja. O velho perfil das festas com álcool já não se sustenta.
 
Dom Orlando Brandes
Arcebispo de Londrina (PR)