CATÓLICOS EQUIVOCADOS
Pe. Zezinho, scj
“Há católicos com pregação e atitude fundamentadas na Bíblia e nos documentos da Igreja, mas tenho visto outros com pregação individualista e atitudes dissonantes”. João Augusto, São Luís (MA) |
Caro João Augusto, você tem razão. Conto um episódio que presenciei, comento e deixo ao leitor as conclusões.
Um sacerdote com sinais evidentes de pouco conhecimento da Bíblia e do Catecismo da Igreja celebrava uma missa, que foi interrompida quatro vezes com revelações particulares. Jesus interrompia a missa de vez em quando, para lhe dizer que alguém estava com alguma enfermidade na assembléia. Eles oravam em línguas e a missa prosseguia. Finalmente, mais uma estrondosa revelação particular. Jesus dissera-lhe, naquele momento, que havia um demônio tentando fortemente alguém naquela assembléia. Não provou nada. Apenas invocou a presença de são Miguel Arcanjo para que — segundo as explicações do padre — viesse expulsar aquele demônio presente na pessoa com sua espada luminosa, a mesma que expulsou Lúcifer do paraíso celeste. Foram essas as suas palavras. Oraram em línguas e, aparentemente, todos ficaram satisfeitos com o resultado. A missa prosseguiu.
Professores de comunicação católicas que sou por mais de 25 anos ficaram pensando naquela comunicação do jovem padre, de acordo com alguns critérios da própria Igreja Católica.
a) As orientações da Igreja sobre a celebração da Eucaristia são claras. Não se interrompe a pregação e a celebração de toda a Igreja, para inserir nelas revelações particulares, sejam elas.
a) As orientações da Igreja sobre a celebração da Eucaristia são claras. Não se interrompe a pregação e a celebração de toda a Igreja, para inserir nelas revelações particulares, sejam elas.
do padre ou dos fiéis.
b) Orar em línguas não faz parte do ritual do exorcismo. A oração de línguas tem outra finalidade na Igreja.
c) O pregador falou, mas não provou nada. O que impede aos fiéis mais esclarecidos de ver isso como atitude de charlatão? Jesus fazia o milagre e deixava ou mandava comprovar.
d) Não compete ao pregador ser intermediário de um suposto milagre e ele mesmo anunciá-lo. Para evitar mentiras ou enganos graves, quem deve dizer se houve ou não milagre é a autoridade eclesiástica.
e) Pior: demonstrou não crer que Jesus eucarístico tenha poder sobre o mal, porque fez isso antes do Pai Nosso. No caso, o pão e o vinho já tinham sido consagrados e Jesus estava ali, naquele altar. Por que chamar São Miguel Arcanjo com sua espada luminosa, se eles tinham Jesus bem ali na sua frente? Jesus pode menos do que são Miguel? Foi equívoco demais numa só missa! Vale a pena deixar uma pessoa vista como santa fazer isso, se ela ensina catequese errada para milhões de pessoas?
Errar, nós todos erramos. Uns mais, outros menos. Falar e celebrar missa para milhões e ensinar disparates como aqueles é usar errado um dom de Deus. Permitir que isso continue, também. A Igreja precisa ter mecanismos que impeçam alguém despreparado de pregar o que prega. Que tal cortar todos os seus improvisos e exigir que, já que mostrou não conhecer direito a teologia católica, escreva seus textos, deixe um teólogo corrigi-los e, só então os leia durante a missa? Ou isso é interferir demais na vida de uma comunidade? E tal comunidade não está interferindo demais na vida de milhares de outras? Dialogamos ou deixamos como está para ver como é que fica?
Fonte: Revista IR AO POVO 106(2005)13
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